Sunday, December 11, 2005

ciranda, cirandinha.




a quinta exposição começa na minha mudança de belém pro recife.
dizendo melhor ainda: para itamaracá. a ilha do litoral norte pernambucano na qual meus avós paternos e alguns meus tios moraram nos anos 30 ou 40. eu e malouzinha também passáramos mais de três meses, pouco antes de me casar e meus pais tinham construído uma casa ótima, lá, mas já a tinham vendido, anos antes, por ocasião de uma doença grave de meu pai. acabei comprando essa casa de volta e instalando nela meu atelier. depois de uma década e meia de trabalho conseguira, finalmente, reunir um dinheirinho suficiente para comprar uma casa e tentar viver, com todas as implicações disto, de, pelo e para, meu trabalho de arte. eu estava em processo de mudança, de sedimentação de conquistas passadas e abertura para novos espaços.
tinha consciência de que chegara a um domínio da técnica do pastel. o “atalho para o óleo” que a técnica do pastel, inicialmente, significara, acabara em um convívio exclusivo de 12 anos. chegara a hora de me dirigir às técnicas úmidas. chegara a hora de interpor o pincel como extensão da mão ( na técnica do paste seco, o contato é direto do bastão com o suporte), chegara a hora de me tornar um pintor. esse processo, na minha cabeça, significava radicalizar as diferenças para agregar o novo “saber”. assim, procurei uma iniciar o novo processo através de uma tinta que prescindisse da cor: o nankin. reduzi tudo ao preto e branco para, a partir daí, ir acrescentando a cor, aos poucos, o que fiz através do guache.
a coleção que posto aqui, faz parte deste processo, é uma série de “cirandas”, ritmo, dança e manifestação religiosa e cultural oriunda de itamaracá. é precisamente onde este processo de emersão à cor ,a partir da ausência de cor, acontece.

Thursday, December 08, 2005

peguei um ita no norte.


noites paraenses, opus 1nº 3 é um pastel sobre papel fabriano preto. essa técnica tem algo de divina. e um fiat lux, você tira luz das trevas. cada cor vibra num determinado comprimento de onda. uma cor vibra com a cor adjacente e cria uma vibração de um comprimento de onda que o olho humano só pressente. é essa a lição que benedicto mello, então diretor do mubel (museu da cidade de belém) me deu no texto com que me honrou no catálogo. não sei se entendi tudo o que deveria entender, revendo os títulos das 16 obras que expus neta quarta individual, acho até que sim: cinco deles são “grandes nus paraenses”, um “com tucano” um “sabor açaí”, um “iluminado”, um "com veladura" e um “noturno”.
há, também, três títulos engraçados: “projeto para carrinho de raspa-raspa”, “remo x paissandu” e “mulher careca assistindo comercial de xampu no ver-o-peso”, marcas literárias da assimilação da cultura paraense, que estava por deixar. marcas das “noites paraenses” que nomeiam outros seis trabalhos, diferenciados pelos registros tipo “opus x, nº y “. de resto só mais dois títulos, que falavam de despedida. um “belém/brasília, o outro “cadeira vazia”. eu estava indo embora e colorindo com a cor invisível meu adeus: adeus, adeus belém do pará.

Tuesday, December 06, 2005

Grande Nu Paraense.


esta exposição foi a mais figurativa de toda minha carreira.
algo na umidade do pará, talvez, que tenha me trazido para dentro da pele.
algo que torna as formas do corpo mais presentes como se as peles que contém os líquidos sentisse um pouco mais a pressão de dentro pra fora. e de fora pra dentro.
algo que só se sente no pará. uma umidade que transborda os poros. quente como uma lâmpada, que lá em guernica, bomba, aqui, neste pastel sobre tela, luz mortiça, nua como convém às musas, seca, nesses amarelos que se esvaem sobre os corpos,
não que não tenha sentido , ao contrário, é pé COM cabeça. as direções é que são diferentes. como é quente...como transpiro, ...piro e rompo a cor do fundo, pesada de umidade roxo azulada. pesada de humildade a cabeça se entrega à curva do calcanhar e cerra os olhos. sonho: ainda é tudo possível. ainda tenho tudo a fazer...estou nu.
ainda tenho muito a sonhar. meus sonhos, só meus sonhos me cobrem.