Saturday, October 29, 2005

bom dia.


malouzinha, minha mulher, dona do conteúdo II, o quadro que ilustra o “post” de hoje, o mantém, apelidado de “bom dia” , pendurado na parede oposta à cabeceira da nossa cama desde que o conteúdo I, meu “boa noite” assumiu meus sonhos. solar, luminoso, doce pêssego macio e aveludado conteúdo de nossas esperanças por uma vida em harmonia, prazer, carinho e paz. por ser um pastel sobre tela, de grande formato (100x100 cm), ele se equilibra, perfeitamente, na perspectiva das distâncias, com o conteúdo I. e nas cores. publicar nossa intimidade poética neste blog, me faz entender a profunda significância deste momento da minha 3ª exposição individual. me faz dimensionar a importância e o significado de nossas escolhas e de nossa comunhão de casal, que na perspectiva plana da vida cotidiana, que me pareceu sempre tão óbvia que não via, via de regra, razão sequer para pensar nisso: não pensar é, já disse pessoa, verdadeiramente, obedecer à deus. Interessante observar que enquanto no noturno conteúdo I, o objeto (a maçã), parece prestes a rolar em movimento, aqui a diagonal tangente, é feita de luz e sombra e o objeto (o pêssego), se mantém plácida e calmamente em repouso. Isso me remete ao poeta que tinha á porta do seu quarto de dormir a seguinte plaquinha: siêncio! poeta trabalhando. ..o que o artista faz de dia, sonhou, primeiramente, à noite.

Wednesday, October 26, 2005

conteudo



nesse pastel minha obra chega a um limite. e hoje, percebo, são os limites que me interessam. é em direção dos limites que me movo.intuí isso. o nome que dei à obra é um testemunho desta intuição: conteúdo I. tá tudo dentro: a forma, a cor, o ponto, a linha, o plano. a luz e a sombra. o movimento, o ritmo. tudo contido neste pequeno pastel sobre papel de 50x50 cm. a figura e abstração, o momento e o posterior movimento. talvez por intuir isso tudo, é que essa obra está desde o fim da 3ª exposição com lugar garantido sobre o espaldar da minha cama. há mais de 20 anos. eu o chamo, na intimidade, de meu “boa noite”. é a estes azuis que entrego meus olhos cansados no final do dia. são eles que velam meu sono. e meus, sonhos, quando os tenho, são todos feitos desta matéria prima. conteúdo congelado de um movimento iminente para dentro de mim mesmo. a maçã azul que, preste a rolar em silêncio, com a suavidade e o conforto de nuvens que se reúnem para criar qualquer forma que, criança eterna, adivinho...

Monday, October 17, 2005

forma.


forma I é o nome da obra. forma humana de gata siamesa revelada pela luz fragmentada em reflexos de arco-íris de um espelho de cristal lapidado. forma formada no sonho, memória de algum desejo tão secreto que a mim mesmo se oculta. sei nada sobre mim. e “ainda é cedo amor”, toca cartola no cd da malouzinha e “em pouco tempo não serás mais o que és”. e eu aqui tentando me conhecer de tão distante. sou o próprio distanciamento histórico que “ herdará só o cinismo” de esquecer a vida e preservar o documento: o que está documentado é o que fica. assim a mentira se perpetua com o rabo de fora dos nossos interesses escusos que reproduzem os desejos inconfessos. quero não. posso nem saber se é, mas se penso, já tendo para um lado que todo penso é torto como me ensinou maninho de mansinho. é aprendi o que pude. mais não pode. sim ou não. como um computador, é binário o plebiscito sobre as armas. mas ambíguo como os becos escuros das intenções ocultas: o não é sim, o sim é não.
e por livre, a mente vareia, vaga e imprecisa como uma onda no mar da inconsciência. e mente, a mente: aumente um conto e ganhe um ponto com o sistema, parceiro no acordo tácito da corrupção implícita. quero não. prefiro a poesia que não, nunca mente: fantasia: vou pro xingu. formaI é um paste sobre papel ingres preto.tem 50x70cm.

Friday, October 07, 2005

vitória do essencial.


a obra deste blog é "espelho 1" pastel sobre fabriano preto de 50x70cms.
o texto e o título do catálogo que também é o deste post, do marc bercowitz:
são grandes os perigos da técnica do paste.
talvez não tanto da técnica – porque esta se aprende e se domina –
mas do virtuosismo que pode resultar deste domínio. este sim, pode levar o artista a abusar dos aveludados, do lado “bonito” do pastel. o domínio da técnica, que é absolutamente necessário, prepara, ao mesmo tempo, armadilhas perigosas das quais odilon cavalcanti soube escapar. acredito que graças a seu poder de síntese, de compreensão do essencial.
os trabalhos de odilon cavalcanti, aqui expostos, são provas não apenas de suas qualidades de artista, mas sobretudo, do seu destemor, de seu espírito independenete. sendo um artista jovem, viajado e informado, soube se manter livre das imposições da moda, dos rótulos impigidos. ele usa a figura como elemento formal, da mesma forma que usaria uma forma abstrata – sem jamais cair no ilustrativo . são estas formas, baseadas ou não no ser humano, que dão força e até imponência a estes pastéis, nos quais odilon cavalcanti explora todas as possibilidades que o material oferece.
não é fácil para um artista, neta época de comunicação rápida e do reinados da “media”, preservar a sua independência e sua personalidade. como também não é fácil resistir à tentação do sucesso relativamente rápido, satisfazendo simplesmente o desejo do público por aquilo que está “na moda”. mas, a longo prazo, são sempre os independentes que vencem e que ficam. entre os quais se encontram, disto estou certo, odilon cavalcanti. que compreendeu o valor do essencial.
marc bercowitz
rio de janeiro,novembro 1086.

Thursday, October 06, 2005

espelho / fragmento III

Fiquei na dúvida atróz, depois que postei o último blog, primeiro do mes. a questão é que a memória me deu uma rasteira que só doeu depois de um tempo. "construções" é a capa do catálogo da quinta exposição, no ibeu de copacabana, no rio. a capa do catálogo da terceira é espelho/fragmento III postada acima. ambas as obras em pastel sobre tela de 100x100cm. a de hoje, bem anterior, é de 1984 e abriu a exposição da galeria teodoro braga/ centur em Belém. O texto do catálogo é de mark berkowitz e foi a primeira exposição de Belém, no ano seguinte à nossa chegada. o diretor do centur era o poeta joão jesus paes loureiro. lembro que o artista mais polêmico de belém, na época foi o primeiro a visitar a exposição, que amanheceu em notas e matérias em todos os jornais. eu era diretor da agência de comunicação do maior grupo empresarial da cidade, como já contei, e as midias estavam todas presentes, entrevistas na tv, etc. tudo com uma certa reserva reticente, proveniente do fato de eu ser de fora, do tabalho não ser conhecido lá... ( em belém na época eu era paulista como até hoje eu sou no recife. em são paulo eu sou paulista e só no rio sou pernambucano..., mas isso é comentário para outro blog). voltando á história, o grande pepê condurú invade a cena na tarde da vernisage com o intuito de detonar a festa do burguês que se atrevia a tomar espaço no melhor reduto cultural do pará. Ele que, soube anos mais tarde, detonaria a exposição retrospectiva do não menos briguento iberê camargo em sampa comentando em auto e bom som para o próprio ouvir que aquilo lá ele fazia aos cinco anos de idade. iberê só não deu um tiro nele porque já tinha gasto a munição. bom, pepê olhou, olhou... e saiu da galeria em silêncio. de noite todos os principais artistas de belém foram chegando. chamados por pepê, que chegou quase no finalzinho para me contar esta história. ficamos amigos. não só dele mas de muitos outros artistas paraenses como emanuel nassar, ronaldo morais rego, geraldo texeira, sarubi e muitos queridos outros artistas paraenases que me adotaram como paraense também, me chamando inclusive para muitas exposições só de artistas "espelho fragmento III" foi adquirido pelo dono de um grande hotel cinco estrelas de belém, conhecido colecionador loca: pepê, generoso, quem me apresentou, dias depois. salve pepê. espelho I está na minha maior coleção fora do brasil. a de um queridíssimo amigo, que hoje é um grande empresário português do ramo do turismo na europa.

Saturday, October 01, 2005

construções.


cinco meses depois das duas exposições no studio josé duaurte de aguiar, estava mudando com toda minha família para belém do pará. eu tinha, na época das duas primeiras exposições, um studio de artes gráficas e comunicação, o "odilon cavalcanti criação e arte" que atendia grandes agências de publicidade realizando jobs em atrazo, emergências, peças que "empacavam" nas agências, este tipo de demanda. era um pronto socorro, uma emergência que dava muito movimento nos finais de semana. atendi uma demanda de um mês de free em belém para a agência do maior grupo empresarial de lá, na época, o grupo belauto. depois deste mês, ficamos sendo assediados pelo presidente do grupo, jair bernadino que acabou comprando o studio e nos levou, eu e malouzinha, como sócios na agência do grupo. estou contando isso porque é muito importante para mim discutir o exercício destas duas profissões paralelas e o que esse exercício significou em minha vida e em minhas carreiras, tando de artista gráfico como de artista plástico. entrei em propaganda para poder tirar o sustento de alguma coisa que não a minha arte. a idéia era que meu trabalho em arte pudesse se desenvolver longe das pressões de mercado, da pressão de agradar a alguém mais que a mim mesmo para eu poder sobreviver do meu trabalho de maneira que o trabalho sobreviva à mim e ao mercado. isso me deu régua e compasso de um lado mas o preconceito do mercado era muito forte. medo,talvez (principalmente dos artistas já consagrados ou a caminho disso), que a compreensão de mercado que o publicitário tem que ter se sobreponha à obra, exata e irônicamente o que me fez ser publicitário só que pelo viés contrário. assim, na contramão dos jogos de poder e grana, fui fazendo o o trabalho se consolidar. só que neste processo v. acaba entrando num círculo neurótico de viver entre escolhas como trabalho x carreira; vida mundana x vida interior; mercado x atelier. este é um processo que incomoda muita gente boa. o artista de muito sucesso que melhor soube cuidar disso foi picasso. o que talvez tenha lidado pior foi miró, que no auge do sucesso, indignado com a valorização especulativa de alguns marchands sobre determinados segmentos de sua obra tocou fogo ritualisticamente em várias delas, fato que, para sua surpresas as valorizaram ainda mais. há uma anedota sobre picasso que é exatamente o outro lado da moeda. autorizado finalmente a entrar no atelier do artista um padre que a meses esperava esta oportunidade presencia o artista amassar e arremessar ao lixo um desenho que não o satisfez e exclama:-mestre, posso pegar para mim. e picasso do auto de sua empáfia de quem sabia valorizar cada obra e cada gesto: -10.000 dóllares!